Page 5 - Revista Lotus-Mes-01-2002-N28
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Revista Lm.ts
Dar-se-á o caso do empregado dizer calmamente: "Sim, Senhor" e executar o
que lhe pediu?
Nada disso. Olhar-se-á perplexo para fazer uma ou mais das seguintes
perguntas:
Quem é ele? Que enciclopédia? Onde é que está a enciclopédia? Fui eu acaso
contratado para fazer isso?
Não quer dizer Bismarck? E se Carlos o fizesse? Já morreu? Precisa disso com
urgência?
Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que
quer? Para que quer saber isso?
E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e
explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que delas precisas, teu
empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia, e depois voltará
para te dizer que tal homem não existe.
Evidentemente, pode ser que eu perca a aposta, mas segundo a lei das médias,
jogo na certa. E esta incapacidade de atuar independentemente, esta inépcia moral, esta a
invalidez da vontade, esta atrofia de disposição de solícitamente se pôr em campo e agir,
são as coisas que recuam para um futuro tão remoto, o advento de uma sociedade pura. Se
os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão quando o
resultado do seu esforço deva redundar em beneficio de todos?
Por enquanto parece que os homens ainda precisam ser feitorados. O que
mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o medo de se não o fizer será
despedido no fim do mês. Anuncia-se: precisa de um taquígrafo e nove entre dez
candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar, e os demais pensam que não é
necessário saber.
Poderá uma pessoa destas escrever uma carta a Garcia?
"Vê aquele guarda-livros?", dizia-me o chefe de uma grande fábrica.
"Sim, que tem?"
É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu o mandasse fazer um recado,
talvez se desobrigasse da incumbência a contento, mas também podia muito bem ser que
no caminho entrasse em duas ou três casas de bebidas e que quando chegasse ao seu
destino já não se recordasse da incumbência que lhe fora dada.Comumente, temos
ouvido muitas expressões sentimentais, externando simpatia para com os pobres entes
que morreram de sol a sol para os infelizes desempregados à cata do trabalho honesto, e
tudo isto, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão
no poder.
Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num baldado
esforço para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalhar conscienciosamente;
nada se diz de sua longa, e paciente, procura de pessoal, que, no entanto, muitas vezes
nada mais faz do que "matar o tempo" logo que ele volta as costas. Empresas acabam por
despedir pessoal que se mostra incapaz de zelar pelos seus interesses, afim de substituí-lo
por outro mais apto. Este processo de seleção por eliminação está se operando
incessantemente, em tempos adversos com a única diferença que, quando os tempos vão
maus e o trabalho escasseiam, a seleção se faz mais escrupulosamente, pondo-se fora,
para sempre, os incompetentes e os irresponsáveis. É a lei da sobrevivência, do mais apto.
Cada patrão, no seu próprio interesse, trata somente de guardar os melhores, aqueles que
podem levar uma mensagem a Garcia.