Page 6 - Revista Lotus-Mes-01-2002-N28
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Conheço homens de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra necessária para gerar
um negócio próprio e que ademais se tornam completamente dispensáveis para qualquer
outra pessoa, devido a suspeita insana, que constantemente abriga, de que seu patrão o
esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o
mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente:
"Leve-a você mesmo".
Hoje esses homens perambulam em busca de trabalho em quase petição de
miséria. No entanto, ninguém que o conheça se aventura a dar-lhe trabalho, porque é a
personificação do descontentamento e do espírito de réplica, refratário a qualquer
conselho ou admoestação.
Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente debilitado como este, não é
menos digno de compaixão que um fisicamente debilitado. Entretanto, nesta
demonstração de compaixão, vertamos também uma lágrima pelos homens que se,
esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão
limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na
incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a
imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito
empreendedor, andariam famintos e sem lar.
Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas?
Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações, quero lançar uma
palavra de simpatia ao homem que exprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a
despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros, e
que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada salvo a sua mera subsistência.
Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como também
tenho sido patrão. Sei, portanto, que alguma coisa se pode dizer de ambos os lados.
Não há excelência na pobreza de per si; farrapos não servem de recomendações.
Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres
são virtuosos.
Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha
conscienciosamente quer o patrão esteja, quer não. E o homem que, ao lhe ser confiada
uma carta para Garcia, tranqüilamente toma a missiva, sem fazer perguntas tolas, sem a
intenção oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar ou praticar qualquer outro
feito que não seja entregá-la ao destinatário, este homem nunca ficará "encostado".
A civilização busca ansiosa, insistentemente, homens nestas condições. Tudo
que um tal homem pedir, se lhe há de conceder. Precisa-se dele em cada cidade, em cada
vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou
venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso:
PRECISA-SE, E PRECISA-SE COM URGÊNCIA,
DE UM HOMEM CAPAZ DE LEVAR UMA MENSAGEM A GARCIA!
Elbert Hubbard
22 de fevereiro de 1899