Page 25 - Revista Lotus-Mes-08-2002-N35
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Bomo
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Uma vez um velho madeireiro da cidade sul-africana de
Knysna me disse que nunca aprendera nada queja nao soubesse. Isso
parecia muito contraditorio, especialmente para umjovem médico no
principio da carreira. A sabedoria popular tern sempre razao, pensei,
mas como é possivel saber alguma coisa que ainda nao aprendeu?
Nessa ocasiao 0 velhote estava explicando como abater uma
arvore e fez notar que, se a gentenao soubesse onde ela ia cair, nao
havia maneira de saber de que lado comecaria a cortar. “A arvore
tomba sempre para o lado em que 0 apoio e menor”, disse ele. “Por
isso, é preciso enfraquecer esse apoio do lado em que voce quer que
ela caia.” Eu estava descrente, o menor erro e ele poderia destruir, de
um lado, uma cabana que nao tinha custado pouco, e, do outro, uma
garagem de tijolos.
Bastante desconado, tracei uma linha no chao entre a cabana
e a garagem. Naquele tempo ainda nao havia serras mecanicas, a forca
bracal e a pericia eram tudo com que se contava para abater arvores.
O madeireiro cuspiu nas maos, pegou num machado e comecou a vi-
brar golpes no solido pinheiro corn mais de um metro de diametro na
base.
Cerca de meia hora depois, a arvore veio abaixo exata-
mente sobre a linha, sem que as pontas dos ramos tocassem na cabana
ou na garagem, ele pareceu um pouco surpreso quando o felicitei pelo
rigor do seu trabalho, mas nao respondeu.
Antes do cair da tarde, ele tinha reduzido a arvore a uma pilha
de toros e gravetos para lenha. Disse-lhe quejamais esqueceria o seu
conselho sobre como abater an/ores.
Pondo o machado ao ornbro, ele se voltou para ir embora e
entao me disse:
“A gente teve sorte, porque niio havia vento. E preciso ter
muito cuidado com ele”.